“E as plantas?”

É uma pergunta frequente que fazem aos veganos.

Gary L. Francione – Tradução de Claudio Godoy

Na verdade, não conheço nenhum vegano que não a tenha ouvido pelo menos uma única vez e a maioria de nós já ouviu esta pergunta várias vezes.

É evidente que quem costuma fazer esta pergunta sabe muito bem que existe uma diferença entre, digamos, uma galinha e um pé de alface. Ou seja, se no próximo jantar você cortar um pé de alface na frente dos seus convidados, eles reagirão de um modo totalmente diferente se você, ao invés disso, fatiar uma galinha viva na frente deles.

Se, ao caminhar em seu jardim, eu pisar de propósito em uma flor, você terá toda razão em se zangar comigo, mas se eu chutar o seu cachorro de propósito, você ficará zangado comigo de uma maneira bem diferente. Ninguém considera estas duas ações equivalentes. Sabemos muito bem que existe uma grande diferença entre uma planta e um cachorro, o que faz com que chutar este último seja moralmente muito mais repreensível do que pisar em uma flor.

A diferença entre um animal e uma planta diz respeito à senciência. Ou seja, os animais não humanos, ou pelo menos aqueles que exploramos rotineiramente, sem dúvida são conscientes de sua percepção sensorial. Criaturas sencientes possuem mentes, logo têm preferências, desejos ou vontades. Isso não significa que as mentes dos animais não humanos sejam parecidas com as nossas. Por exemplo, a mente dos humanos, que fazem uso da linguagem simbólica para interagir com o seu mundo, pode ser bem diferente da mente dos morcegos, que se valem da ecolocalização para interagir com o seu mundo. É difícil saber com precisão.

Mas também é irrelevante, pois tanto os humanos quanto os morcegos são sencientes. Ambos são criaturas que possuem interesses, no sentido em que ambos têm preferências, desejos ou vontades. Um humano e um morcego podem pensar de um modo diferente sobre esses interesses, mas não pode haver a menor dúvida de que ambos possuem interesses, inclusive o interesse de evitar a dor e o sofrimento e o interesse de permanecerem vivos.

Já as plantas são qualitativamente diferentes dos humanos e dos outros animais sencientes. Sem dúvida as plantas são seres vivos, mas não são sencientes, pois não possuem interesses. Uma planta não pode ter desejos, vontades ou preferências porque ela não possui uma mente para que possa se ocupar com estas atividades cognitivas.

Quando dizemos que uma planta “precisa” ou “necessita” de um pouco de água, não estamos nos referindo ao seu status mental do mesmo modo que não estamos nos referindo à mente de um carro quando dizemos que o seu motor “precisa” ou “necessita” de um pouco de óleo. Trocar o óleo do meu carro pode ser do meu interesse, mas nunca do interesse do carro, pois este não tem interesses.

Uma planta pode reagir à luz do sol e a outros estímulos, mas isso não significa que ela seja senciente. Se eu descarregar uma corrente elétrica em um fio amarrado a um sino, o sino tocará. Mas isso não significa que o sino seja senciente. As plantas não possuem sistemas nervosos, receptores de benzodiazepina ou quaisquer características que estejam relacionadas à senciência.

E tudo isso faz sentido do ponto de vista científico. Por que elas teriam a necessidade evolucionária de desenvolver a senciência se elas não podem fazer nada para reagir a um ato danoso? Se você atear fogo a uma planta, ela não poderá sair correndo, ela permanecerá no mesmo lugar até queimar. Agora se você atear fogo a um cachorro, ele reagirá exatamente da mesma forma como você reagiria: ele urrará de dor e tentará se livrar das chamas.

A senciência é uma característica que evoluiu em algumas criaturas para que elas pudessem ser capazes de sobreviver ao fugir de um estímulo nocivo. A senciência não teria nenhuma serventia para uma planta, pois elas não podem “fugir”.

Não estou querendo dizer com isso que não existe nenhuma obrigação moral de nossa parte referente às plantas, mas sim que não temos nenhuma obrigação moral para com as plantas. Ou seja, podemos ter a obrigação moral de não cortar uma árvore, mas esta é uma obrigação que não temos para com a árvore. Uma árvore não é o tipo de entidade com a qual nós podemos ter obrigações morais.

Podemos ter obrigações morais para com todas as criaturas sencientes que vivem em uma árvore ou dependem dela para a sua sobrevivência. Podemos ter obrigações morais para com os outros seres humanos e para com os outros animais não humanos que habitam o planeta no que se refere à não destruição de árvores a torto e a direito. Mas não podemos ter nenhuma obrigação moral para com uma árvore, pois só podemos ter obrigações morais para com criaturas sencientes e uma árvore não é nem senciente nem possui interesses, pois ela não tem preferências, vontades nem desejos.

Uma árvore não é o tipo de entidade que se preocupa com o que fazemos com ela. Uma árvore é um “objeto”. Já o esquilo e os pássaros que vivem nela sem dúvida têm o interesse de que nós não a derrubemos, mas a árvore não. Pode ser moralmente repreensível derrubar uma árvore por capricho, mas este tipo de ação é qualitativamente diferente do ato de atirar em um cervo.

Quando se fala em “direitos” para as árvores, como querem alguns, procura-se igualar as árvores aos animais não humanos e este tipo de comparação só pode se dar em detrimento destes últimos. De fato, é comum ouvir ambientalistas falar sobre a nossa responsabilidade na preservação de nossos recursos naturais, considerando inclusive os animais não humanos como um “recurso” a ser preservado.

E isso é um grande problema para aqueles como nós que não consideram os animais não humanos como “recursos” destinados ao nosso uso. Árvores e outras plantas são recursos que podemos utilizar. Temos a obrigação de usar estes recursos com sabedoria, mas esta é uma obrigação que nós temos apenas para com as outras pessoas, sejam elas humanas ou não humanas.

Para finalizar, existe uma variação da pergunta sobre as plantas: “e os insetos, eles são sencientes?” Até onde eu posso saber, ninguém ainda sabe com certeza. Mas certamente eu concedo aos insetos o benefício da dúvida. Eu não mato insetos em minha casa e procuro sempre evitar pisar em um deles quando caminho.

No caso dos insetos, pode ser difícil traçar o limite, mas isso não significa que este limite não possa ser traçado com precisão na maioria dos casos. Matamos e comemos pelo menos dez bilhões de animais terrestres todos os anos apenas nos Estados Unidos. Esta cifra não inclui todos os animais marinhos que matamos e comemos. Talvez possa haver alguma dúvida se animais como mariscos ou mexilhões sejam mesmo sencientes, mas sem dúvida todas as vacas, porcos, galinhas, perus, peixes, etc. são sencientes. Os animais não humanos dos quais tiramos o leite e os ovos sem dúvida são sencientes.

O fato de não sabermos ao certo se os insetos são sencientes não significa que devemos ter qualquer dúvida sobre o fato de que todos estes outros animais não humanos são sencientes, pois estamos absolutamente certos quanto a isso. E, ao dizer que o fato de que não estamos certos se os insetos são sencientes nos impede de avaliar a moralidade de se comer carne ou de usar produtos oriundos de animais não-humanos que sabemos sem sombra de dúvida serem sencientes ou de avaliar a moralidade de trazer estes animais não humanos à existência com o objetivo de usá-los como nossos “recursos” evidentemente é um absurdo.

Gary L. Francione

© 2006 Gary L. Francione

Fonte: http://consciencia.blog.br/2010/11/plantas-sentem-dor.html#.UR_2iGekmZR


 

E AS PLANTAS?

por Bruno Müller

Voltando a abordar as questões mais recorrentes que vegetarianos e veganos enfrentam, quero tratar de uma das mais populares entre os onívoros.
Uma pergunta que sempre aparece, com variações: “mas e as plantas? Elas também não sentem? Porque devemos ter compaixão pelos animais e não por elas?”

Por mais absurda que seja a questão, e por mais que eu esteja convencido que ela raramente é posta com propósito sincero, vale a pena se debruçar sobre ela, até para demonstrar a desonestidade de quem a coloca. Ela raramente é motivada por uma dúvida sincera sobre a diferença (ou não) nas implicações éticas do uso de animais e plantas por seres humanos. Geralmente é um álibi dos onívoros para justificar seus hábitos: “se não podemos ser éticos em igual medida com animais e plantas, então seria arbitrário poupar apenas um deles, sendo mais lógico e justo vitimar ambos”. Como veremos, há um oceano de distância nas implicações éticas do uso de animais e de plantas. Os pretensos defensores das plantas – que eu jocosamente chamo de “alfascistas” (conjunção de “alface” com “fascista”) – na verdade guardam parentesco com os relativistas e os realistas políticos. Como os primeiros, diante da impossibilidade de justificar seus desvios éticos, buscam apontar o dedo acusador para seus críticos, julgando que os erros que eles também cometem – mesmo que apenas presumidos – eximem-nos de responsabilidade pelos seus próprios erros. Como os realistas, sugerem que a impossibilidade de chegar a padrões mínimos de moralidade e ética não apenas invalidam a busca por estes padrões, como justificam a ação totalmente desvinculada de ambos.

Geralmente a questão vem na forma da afirmação: “os vegetais também são seres vivos”. É aqui que começa a se mostrar a fragilidade de seus “argumentos”. De fato os vegetais são seres vivos. Mas alguns vegetais sequer precisam ser mortos para serem comidos. Tira-se a folha, ou o fruto, e o vegetal continua lá vivo. Também se pode deixar a raiz e o vegetal vai continuar a crescer. Agora, quando se tira o vegetal pela raiz, é inegável, ele morre.

A outra forma mais famosa de confrontar os vegetarianos é dizer: “os vegetais também sentem”. Essa, que na verdade é a questão central, não é de melhor valia para os alfascistas. Aqui entra a questão da senciência, que qualquer pessoa que se dê ao trabalho de investigar as razões do veganismo deveria conhecer. Senciência é o termo que usamos para explicar porque somos veganos. Resumindo, dizemos que os vegetais não têm senciência, ou seja, não sofrem. Agora, algumas pessoas mais bem informadas ou mais espertas ou mais interessadas em nos confrontar, podem alegar que existem estudos sobre a capacidade das plantas de “sentir” a agressividade do ambiente, ou o fato delas responderem a estímulos (como a planta dormideira, que se fecha ao ser tocada). Eis algumas formas de responder estas questões:

1. Os estudos sobre a sensibilidade das plantas são inconclusivos, nunca foram repetidos (pré-requisito para um experimento científico ter validade) e alguns cientistas consideram-nos como verdadeiras fraudes.

2. As plantas não têm sistema nervoso central, logo é impossível para elas sofrerem e sentir dor.

3. As plantas são fixadas na terra; elas não podem fugir de um predador, no máximo ter espinhos; o sistema nervoso e a sensação de dor servem justamente de alerta para que os animais fujam de perigo iminente – se a planta não pode fugir, pra que precisaria sentir dor? Senciência, para elas, é desnecessário; seria mesmo contraditório com sua própria condição.

4. Responder a estímulos não é igual a ter senciência. Até organismos não-vivos como células e proteínas respondem a estímulos. Mesmo que as plantas tenham algum tipo de sensibilidade, ela seria muito diferente da senciência dos animais. Mesmo os estudos que tratam da sensibilidade das plantas constatam isso.  Elas podem ter mecanismos de defesa, atração, estratégias de dispersão de sementes ou mesmo captura de presas. Mas nada indica que elas experimentem dor ou sentimentos.

5. É provado que podemos viver sem explorar, matar, comer animais. Mas podemos viver sem plantas? Lembrando que usamos plantas não só na alimentação, mas para fazer várias outras coisas, desde produtos de higiene e limpeza, medicamentos, até roupas e utensílios domésticos e móveis. Viver sem usar plantas, se não for impossível, exigiria que voltássemos a viver na selva. No caso das plantas, portanto, pode-se alegar com muito mais propriedade que nossas vidas dependem dela – o que não é de modo algum verdadeiro no caso dos animais não-humanos.

6. Se a pessoa ainda assim acha que não há diferença entre usar plantas e animais – e acredite-me, ela só dirá isso se estiver competindo, e não dialogando, pois qualquer pessoa com bom senso (não precisa nem inteligência) é capaz de perceber a diferença – então pode-se dizer duas coisas:

6a. Podemos optar por causar mais dano ou menos dano. É sempre preferível, quando o dano é inevitável, causar menos dano. Creio que qualquer pessoa, a menos que seja nazista ou coisa parecida, terá que concordar com este princípio. E o fato indiscutível é que comer e usar plantas diretamente causa menos dano, porque se temos que infligi-lo, e podemos optar em fazê-lo a animais E plantas ou só a plantas, o melhor a fazer é causar dano só às plantas. Até porque, afinal, os animais também comem vegetais e derivados, e um boi, alguns porcos ou muitas galinhas comem muito mais vegetais do que um ser humano comum. Se considerarmos o tanto de animais para consumo que existem no planeta, veremos quantas toneladas de vegetais nós lhes damos para os comê-los depois, o que será revertido numa quantidade bem menor de carne, que além de tudo é um alimento mais pobre. Aqui percebe-se como até de uma pergunta banal, provavelmente debochada, pode-se extrair uma reflexão relevante. Se esse interlocutor hipotético acha mesmo que devemos consideração às plantas, ainda assim teria de ser vegetariano: produz-se e consome-se muito menos plantas se nos alimentamos diretamente delas, causando, consequentemente, menos dano não só aos animais, mas às próprias plantas e a todo o ecossistema. Tantas plantas sendo dadas a animais é desperdício de comida e uma pressão extra sobre as florestas remanescentes. É mais racional, sob todos os aspectos, alimentar-se diretamente de fontes vegetais. Além de poupar os animais, desse temos mais excedente de alimentos (ajudando no combate à fome, que é um fenômeno político) e ajudamos a reduzir a dependência da importação de alimentos e a derrubada de florestas.

6b. Se, em todo caso, a pessoa DE FATO se preocupa em poupar a vida dos vegetais, ela tem a opção de adotar o frugivorismo (frutos e frutas), que embora restrito e requeira muito cuidado, é viável. Não há, sob qualquer prisma, em qualquer sistema de crenças, qualquer dilema ético na alimentação frugívora, afinal, as frutas não são seres vivos, são parte do sistema reprodutor dos vegetais, e EXISTEM PARA SEREM COMIDOS, pois é ao comê-los que os animais espalham as sementes dos vegetais, permitindo assim que nasça uma nova geração deles. De todo modo, a maior parte da nossa alimentação se dá pelo consumo de sementes, frutos, tubérculos, leguminosas… Muito pouco do que a gente come tem que ser “morto”. Mas daí cabe a ressalva do que mencionei no item 5: para ser coerente, o “frugívoro ético” não pode usar nenhum produto de origem vegetal, que é justamente o que os veganos fazem em relação aos animais, e este seria o verdadeiro “dilema ético” de usar vegetais.

Quem quiser saber mais sobre os estudos sobre a sensibilidade das plantas e sua contestação: <http://brazil.skepdic.com/plantas.html>

Quis ser o mais abrangente possível neste texto, para dar argumentos aos vegetarianos confrontados com essa “pegadinha” dos onívoros. Minha experiência mostra que raramente precisamos usar todos esses contra-argumentos. Depois de um ou dois deles, as pessoas desistem de nos questionar, diante da fragilidade de seus próprios “argumentos”.


Fonte: http://sereslivres.blogspot.com.br/search/label/Vegetais


 

 

Resposta curta aos que se importam com a vida das PLANTAS

 

Os animais criados para virarem “carne” são alimentados com PLANTAS. 

A maioria deles (bovinos) é estritamente herbívora.

Para  produzir 1kg de carne bovina são necessários 7kg de grãos (PLANTAS) – além de 15 mil litros de água.

Portanto, quem se importa com a vida das PLANTAS tem um bom motivo para não comer carnes ou qualquer derivado (ovos, leite, laticínios) de animais que se alimentam de PLANTAS.

E, quem não quer ser responsável por destruir a vida das PLANTAS, pode adotar o ‘frugivorismo’ (dieta à base de frutos e frutas).

Referência: http://www.geografia.fflch.usp.br/inferior/laboratorios/agraria/Anais%20XIXENGA/artigos/Hiath_M.pdf

GatoVerde em defesa dos Direitos Animais