Ansiedade de Separação

 

MEU CACHORRO NÃO FICA SÓ

Umas das queixas mais comuns dos donos de cachorros (ou pelo menos dos vizinhos dos donos de cachorros) é sobre a gritaria que eles costumam fazer quando são deixados sozinhos. Muitas vezes o cachorro nem chora ou late muito, mas destrói a casa toda, faz xixi e cocô em lugares que normalmente ele não faria, baba ou lambe as patas sem parar (muitos chegando a ficar com as patas feridas).

Alguns donos acham que este comportamento é um simples protesto quanto a solidão forçada, e que o cachorro faz tanta bagunça para punir o dono.

Não é raro ouvir coisas como “Ele faz de propósito. É só eu sair que ele destrói a casa toda”. Ou ainda “Ele sabe que está errado, ele faz xixi na minha cama e na sala só para me deixar maluca”.

Não é bem assim. Estes cães não estão fazendo tanta confusão só pelo prazer de tornar a nossa vida mais difícil e a gente ainda mais culpado.

Os cães não possuem este tipo de pensamento e sentimento.

Eles não são vingativos, até porque não sabem se serão deixados por pouco ou por muito tempo a sós.

Na verdade animais que se comportam de maneira destrutiva, ou choram muito na ausência do dono, SOFREM MUITO.

Eles acham que foram abandonados ali…sozinhos.

O fato de ter que ficar só faz com que eles se sintam perdidos, amedrontados e desesperados.

Com tanto desconforto interior, não é a toa que eles percam o controle de seu comportamento e comecem a fazer coisas fora do comum.

Nem sempre o comportamento inadequado do cão está relacionado com a ansiedade da separação. E nem todo cachorro desenvolve este tipo de comportamento. O fato é que muitos donos (e cães) acabam sofrendo, e muitas vezes tornando as coisas ainda piores porque não conseguem ver as coisas sob a perspectiva da mente do cão.

Roer, lamber, cavar, e até urinar pela casa toda é uma forma de tentar aliviar a tensão e o estresse que ele sente.

O cão simplesmente não suporta uma situação que deveria ser rotina na vida dele.

Aliás, fazer com que ele perceba que existe uma rotina em sua vida é um dos passos que ajudarão o seu cachorrinho a conviver melhor com os momentos em que ele terá que ficar só.

Embora pareça lógico que ninguém gosta de ficar sozinho por várias horas (especialmente pequenos filhotes) muitos donos não conseguem suportar o comportamento inadequado de seus cães e acabam desistindo do animal, ou se chateando com os vizinhos.

Felizmente estes aborrecimentos podem ser evitados se tomarmos alguns cuidados.

A primeira coisa a se fazer, para quem ainda está pensando em ter um filhote, é tomar cuidado extra na adaptação do cachorro quando ele chega em casa.

Dar broncas no filhote que chora porque não quer dormir sozinho na área ou na cozinha logo na primeira noite pode tornar o evento “ficar sozinho na cozinha” uma coisa muito traumática e a partir daí o pequeno nunca mais vai se sentir seguro.

Em geral, filhotes foram separados da mãe e dos irmãozinhos e nunca experimentaram a solidão. É preciso treiná-lo aos pouquinhos a ficar só, e o choque não será tão grande.

Procure fazer estes exercícios/treinamentos sugeridos abaixo nos horários que você normalmente deixa a casa.

 

ESTIMULE A INDEPENDÊNCIA

Mesmo que você já tenha o cachorro e ele seja adulto, estimule-o cada vez mais a brincar sozinho e a ficar em outros cômodos da casa (onde você não está), sem ter que ficar com as portas fechadas.

Durante o dia procure colocar a caminha dele num local a onde você passa menos tempo.

Coloque neste cômodo os brinquedos prediletos do seu cãozinho e também deixe que “apareçam” por lá algumas guloseimas caninas, sem que ele espere.

ARRANJE UM CANTINHO TODO ESPECIAL SÓ PARA ELE

Procure um lugar calmo, na sombra, que seja arejado. Coloque sempre uma caminha ou um paninho para o cão ficar mais aconchegado e um potinho de água por perto.

Os brinquedos tão queridos não podem faltar e escolha as coisas que ele mais gosta de roer (sem ser o seu sapato importado, é claro), para ficar neste oásis particular.

Assegure-se de que não há coisas perigosas como fios elétricos por perto. Nunca brigue com o seu cachorro quando ele estiver deitado no cantinho dele.

Torne este lugar num refúgio dos problemas do mundo.

Assim, quando ele estiver muito angustiado é provável que seu peludo se lembre das boas coisas que acontecem no canto dele e vá para lá ao invés de ficar perambulando pela casa, dando vazão a sua sanha de

exterminador do futuro.

NADA DE FICAR NO COLO O TEMPO TODO

Mesmo sendo absolutamente adorável, procure não ficar com o seu cachorrinho no colo enquanto você está em casa, muito menos ficar chamando-o o tempo todo.

Procure brinquedos que ele se interesse em brincar sozinho, como a bola de buracos para introduzir biscoitos, a corda de nós ou brinquedos de pelúcia especiais para cães.

VÁ ACOSTUMANDO AOS POUCOS

Se você pretende deixá-lo numa área restrita enquanto estiver fora, comece a acostumá-lo a ficar nesta área mesmo quando você está em casa.

Acostume o seu cachorro aos poucos, começando com 5 minutos de cada vez e vá dobrando o tempo quando ele estiver confortável e não estiver chorando mais.

Sempre ofereça muitas opções para o seu cachorro ficar entretido enquanto ele está sozinho.

Vários brinquedos e coisinhas para roer, de texturas diferentes.

Por outro lado nunca “treine” o seu cachorro a chorar, abrindo a porta toda vez que ele estiver chorando.

Só abra a porta quando ele estiver bem quietinho, por pelo menos 2 minutos.

Quanto mais gradual e consistente for esta fase do treinamento, mais rápido o seu cão vai aceitar ficar sozinho.

CRIE JOGOS E BRINCADEIRAS PARA QUANDO VOCÊ NÃO ESTIVER EM CASA

Um bom exemplo é ensinar ao seu cachorro a procurar o “tesouro” escondido.

Você pode usar comida (pequenos pedaços de biscoitos caninos), ou brinquedos que ele goste muito.

Coloque o peludo sentado numa área (cozinha ou lavabo, por exemplo) e mande ele esperar (o comando SENTA-FICA é muito útil nesta brincadeira ou, se o seu cachorro não for treinado, experimente fechar a porta, mas lembre-se, só abra a porta se ele estiver quieto).

Esconda pequenos pedacinhos de biscoito de cachorro pela casa, ou o brinquedo predileto.

Debaixo do tapete (só na pontinha do tapete, para que o peludo não revire tudo procurando a guloseima), debaixo de almofadas, nos cantinhos das paredes, etc.).

Libere o peludo com o comando PROCURA, e incentive-o a procurar os tesouros. Se ele parecer confuso e perdido nas primeiras tentativas você pode orientá-lo, levando-o até o esconderijo, mas sempre deixe a captura final para o cão.
Em pouco tempo o bichão deverá pegar o espírito da coisa e você vai poder fazer o mesmo antes de sair de casa.

O cão vai ficar tão feliz em procurar biscoitos e brinquedos que ele praticamente vai pedir para você sair de casa mais vezes. Vale lembrar que quanto mais valorizado for o petisco a ser escondido, mais interessado o cachorro vai ficar. Por isso evite dar biscoitos, ou o brinquedo predileto de seu cão, em momentos pouco especiais.

VALORIZE A SUA SAÍDA E NÃO A SUA VOLTA

Um outro erro comum dos donos que possuem cachorros que choram muito é justamente tornar a sua saída triste e a chegada um evento digno de comemoração.

Faz bem pro ego da gente deste jeito?

Claro que faz, mas se você está correndo o risco de ficar sem o cachorro por causa da reclamação dos vizinhos, pense outra vez.

Procure fazer da sua partida o grande acontecimento.

Esconda os biscoitos, dê o brinquedo predileto, encha a bolinha de borracha de gostosuras, e se o seu cachorrinho estiver dormindo NÃO VÁ ACORDÁ-LO para dar um beijinho de despedida.

Evite qualquer tipo de contato com o seu cachorro, principalmente se ele estiver demonstrando sinais de extrema ansiedade, pelo menos 20 minutos antes de você sair.

Se ele for treinado para comandos de obediência, procure fazer um pequeno exercício, pedindo para que ele sente e deite, sente novamente e deite novamente, umas 5 vezes.

Saia sem fazer grande alarde e sem grandes despedidas.

Ao retornar para casa procure ignorar seu cachorro até que ele se acalme.

Uns cinco minutos de espera para ganhar o seu carinho vai ajudar muito para que o cachorro aprenda a controlar a ansiedade do seu retorno.

UM CACHORRO CANSADO É UM CACHORRO FELIZ!

Procure fazer muito exercício antes de sair.

Reserve uma hora antes de sair e caminhe intensamente, jogue bolinha, faça exercícios de obediência ou qualquer outra atividade física com o seu cachorro, interrompendo 20 minutos antes de você sair.

A intenção é deixar o cachorro bem cansado e livre do estresse de confinamento, reservando os 20 minutos finais para ele relaxar antes de você ir embora.

Quando você voltar, e depois que o cachorro estiver calmo, reserve uma parte do dia (ou da noite) para se dedicar a ele.

Se isso for feito como rotina, logo ele irá aprender que também faz parte da vida familiar, e que as coisas irão acontecer ao seu tempo.

Ele terá certeza de que não precisa ficar implorando pela sua atenção e carinhos, pois a horinha dele está reservada.

FINJA QUE TEM GENTE EM CASA

Alguns animais se sentem mais confortáveis quando se deixa uma luz acesa, ou um rádio ligado, ou uma peça de roupa do dono com ele (camiseta velha serve, mas não se esqueça de depois de lavar a camiseta “do cão” deixá-la alguns dias dentro do seu armário para pegar o “cheirinho” novamente).

Outros parecem ficar ainda mais ansiosos com estes artifícios.

É preciso observar o comportamento do seu cachorro para ter certeza se estas são boas estratégias.

Uma coisa que parece fazer muita diferença nestes casos é justamente a rotina quando vc está em casa.

Ou seja, não adianta ligar o rádio só quando você vai sair, se você não costuma ouvir música em casa.

Se for feito desta maneira o rádio é apenas mais uma dica de que você está indo embora e o bicho fica mais excitado.

CONVERSE COM O SEU VETERINÁRIO

Se nada parece ajudar, ou se o cachorro ficar realmente muito estressado, converse com o seu veterinário sobre a possibilidade de usar algum tipo de medicação. […[

NUNCA dê remédios ou tranquilizantes (especialmente os formulados para o uso em humanos) sem falar com o seu veterinário. E peça receita por escrito.

E ainda assim, use este recurso como última opção… só depois de tentar adestrar e ensinar com reforço positivo.

QUEM TEM UM TEM DOIS?

Considere a companhia de um outro animal para o seu cachorrinho com cuidado.

Procure saber primeiro se o seu cachorro realmente apreciaria a companhia de outro cão (ou mesmo um gato).

Experimente levar o cachorrinho (ou gatinho) do seu amigo, ou de algum parente, para passar um dia com vocês e observe o comportamento do seu amigão.

Passe algumas horas fora de casa e veja como ele se comporta.

Nem sempre o cachorro que sofre com a separação do dono vai se sentir melhor com a presença de outro animal.

Pelo contrário, muitos são tão ligados aos seus donos (e aos humanos em geral) que outro bicho na casa será visto única e exclusivamente como um competidor.

O resultado pode ser desastroso. Felizmente esta não é a regra para todos.

Tem cachorro que fica feliz da vida por ter um outro bicho na casa.

Só não vale é deixar o segundo animal também dependente da sua presença!

PUNIÇÕES SÓ PIORAM

Finalmente, o mais importante é NÃO PUNIR NUNCA o seu cão pelo fato dele fazer bagunça quando você está fora.

É uma atitude cruel bater num cachorro que já sofreu tanto com a nossa ausência e no mínimo a gente vai estar reforçando o sentimento no animal de que é melhor apanhar do que não ter atenção nenhuma, ou seja, (na cabeça dele)… “Se eu fizer muita bagunça o meu dono acaba voltando. Tá certo que eu levo uns cascudos, mas pelo menos ele está aqui comigo.”

Seja compreensivo e procure ajudar o seu cachorro a superar uma dificuldade tão grande.

Cães são animais sociais. Por sua natureza, não estão aptos e não sabem viver sozinhos.

Eles não estão preparados para aguentar todo o estresse que a vida urbana e as longas horas de trabalho nos obriga a viver.

Por outro lado, também é bom lembrar que todos nós adoraríamos ter um cachorrinho amigo, devotado, que está sempre perto da gente.

Que adoraríamos mimá-lo, e que muitas vezes nós gostaríamos que eles fossem “nossas crianças”.

O problema é que ELES NÃO SÃO CRIANÇAS, e tantos mimos, tanto grude, tanta dependência, não irá trazer nenhum benefício para o nosso tão querido animal de companhia.

Mesmo para aqueles que hoje não costumam passar nem um minuto longe de seu cão, a longo prazo as chances de um dia a gente ter que se ausentar por um bom período de tempo vai aumentando e, quando este dia chegar, o mais prejudicado na história vai ser justamente aquele que nós amamos tanto.

Equilíbrio é a palavra chave.

Claudia Pizzolatto – http://www.lordcao.com/lcn012.htm


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ENSINAR O CÃO A FICAR SOZINHO EM CASA

 

…tantos cães sofrem quando são deixados sozinhos – e a prevenção disso é tão simples.

Segue abaixo um sumário de procedimentos para ensinar um cachorro a ficar sozinho em casa sem sofrer ansiedade pela ausência das pessoas. […]

Os cães aprendem todos os tipos de conexões (ligar sinais a coisas agradáveis ou desagradáveis) quase de forma espontânea e estas precisam ser orientadas para o próprio bem estar do cão.

Muitos cães aprendem que, quando a pessoa pega as chaves do carro ou a bolsa,

segue-se um período indeterminado de solidão.

O truque é ligar tais deixas com bons resultados como afeição e a volta do dono – antes que possam ficar associadas como resultado negativo da separação.

Então, treine seu companheiro canino para ficar sozinho.

– Pegue as chaves (ou a bolsa) vá para a porta e elogie o cachorro (se ele não latir).

– Pegue as chaves, cruze a porta, volte direto para dentro e elogie o cão.

– Pegue as chaves, vá lá fora espere 1 minuto, volte e elogie o cão.

– Pegue as chaves, vá lá fora, espere 2 minutos, volte e elogie o cão

– E, vá aumentando o tempo para 5, 10 minutos, volte e elogie o cão.

– Diante de qualquer sinal de ansiedade do animal (pular, latir) não o recompense com elogio ou carinho e volte atrás um estágio.

 

Assim o cão aprende que essa movimentação significa o retorno do seu dono (resultado bom) e não a partida dele (resultado ruim).

TÉDIO QUE DESTRÓI

Muitos cães, mesmo aqueles que não são afetados em particular pela ausência do dono, ficam entediados quando deixados sozinhos por longos períodos de tempo e podem destruir coisas e móveis apenas para ter o que fazer.
Cães que roem, mastigam e mordem coisas quando estão sozinhos devem ter sua atenção desviada para algo “mastigável” com sabor gostoso como “alimentador com quebra-cabeça” cheio de petiscos.
Como os cães dependem muito do cheiro de seu ambiente, podem ficar mais confortáveis se a pessoa deixar uma peça de roupa com seu cheiro próximo ao cão.

IMPORTANTE

NÃO CASTIGUE o cachorro ao chegar em casa e descobrir que ele fez algo que você não queria.
Isso só vai torná-lo mais ansioso.
Seu cão não aprenderá a fazer a coisa certa quando leva bronca.
Ele pode entender que você não gostou de algo que ele fez, mas não vai entender o que deve fazer para não levar bronca.
Cães aprendem quando recebem um reforço positivo para o comportamento que você espera dele.

Assim como estas sugestões podem ser úteis para prevenir um comportamento problemático, podem também funcionar para acalmar um cachorro que apenas começou a ficar angustiado por ter sido deixado sozinho.
No entanto, se elas não funcionarem em uma ou duas semanas, recomendo que procure a ajuda de um especialista em comportamento canino qualificado.


Texto adaptado do livro “Cão Senso” de John Bradshaw – “Ficar sozinho em casa: podem os cães ser treinados para lidar com isso?”

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John Bradshaw é biólogo, fundador e diretor do renomado Anthrozoology Institute, baseado na Universidade de Bristol.
Ele estuda o comportamento dos cães domésticos e seus guardiões há mais de 25 anos e é autor de vários artigos científicos, pesquisas e resenhas, que não apenas lançaram nova luz sobre as habilidades e necessidades caninas, mas mudaram a maneira pela qual os cachorros são compreendidos e cuidados no mundo todo.
Cão Senso – neste livro John Bradshaw revisita as origens do cão e desconstrói a prática da zoologia comparada em que o comportamento do lobo é a referência para a interpretação das atitudes dos cães de companhia. Ele mostra que o primeiro é motivado pela vontade de dominar e o segundo pela ansiedade.


 

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GatoVerde, em defesa dos Direitos Animais